domingo, 12 de dezembro de 2010

Carta a Costinha

  “Mas também sabia uma coisa: quando estivesse mais pronta, passaria de si para os outros, o seu caminho era os outros. Quando pudesse sentir plenamente o outro estaria a salvo e pensaria: eis o meu porto de chegada.
    Mas antes precisava tocar em si própria, antes precisava tocar o mundo.”
                            (Clarice Lispector, em uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

Caro Costinha,
Lembra de Natal, Cidade Alta, Galpão, 1994? Sempre conheci as cidades pelos melhores bairros. Você me fez conhecer  a Ribeira, berço da nossa capital. Como vai Macaíba? Essa cidade, mesmo pequena, também me fascina com seus altos e baixos e seus casarões antigos. Ainda lembro acordar em sua casa, colocar Esotérico no seu som e cantar pra rua inteira ouvir. Que saudade de Macaíba.
Costinha, você, também é do mundo , mesmo morando na terra de Auta de Sousa. Você é Apodi, Mossoró, Recife, Natal e Brasil. Não necessariamente nessa mesma ordem.
Espero que você se lance sempre nesse armazém de lugares e voe por caminhos mais altos, os mais diferentes e ecléticos assim como você é.
                                                                Abraço,
                                                                     Edson.

P.S. Aguardem cartas.



2 comentários:

  1. Meu caro, foi uma felicidade receber a noticia em seu estado dionisiaco sobre esta carta. Todas as cartas são ridiculas, mas ridiculo é quem nunca escreveu uma carta.
    E agora após ler essa carta que me emocionou muito ficou mais evidente que temos uma amizade solida. Quanto tempo mesmo ? O tempo...
    E nossas historias de adolescencia e junventude ? de verão ? Essa de ouvir esotérico numa manhã ao som alto é mínima. Lembra de pipa ? E recife ? E o pagode em Natal ? E nossas ida ao bar de Gal?
    Estou feliz com a carta. VocÊ definitamente é out, acima do bem e do mal.

    ResponderExcluir
  2. ORATÓRIO DE SANTA LUZIA

    Desenhei olhos
    As íris azuis vingou o odio de Púbio.
    Contornava-lhe com pálpebras fartos cílios.
    Visões invisíveis pintavam o papel.

    Até descobrir o olhar caledoscópio
    Que me luzia com os vitrais na catedral,
    Revela não pelas palavras
    De modo explicito
    E sim na maneira de viver

    Vejo que aprendi com seus olhos
    A ter coragem na vida,
    A guiar-me a justa escolha dentro das horas escuras.

    Não queimei na fogueira da vaidade
    No qual fui lançado,
    Fui de você que me lembrei naquele momento.

    Honro a liberdade que estou condenado.
    A quebra das amarras do cavalo capital
    Ferroz a mim arrastar
    Foi com a tua força que alcancei a graça.

    Aquele pão que deste
    Não só saciou a fome .
    O gesto revestiu-me o ser de sapiência.
    Alcancei a sublime saúde.

    Feliz vejo o verde e o vermelho
    Todo dia 13 de dezembro,
    Nas ruas de Siracusa ou Mossoró.
    Graças a ti que une-nos
    A ordem devocional.

    ResponderExcluir