domingo, 20 de março de 2011

Carta a Carlos Drumond de Andrade

Fazia tempo que queria te escrever, mas o momento é este. Tu és um poeta profeta. Relendo alguns versos  de João Cabral de Melo Neto, ele me lembra  dos teus versos quando tu falas de injustiça e de situações conflitantes. O poema fala de um rio, mas bem que poderia ser um mar e lembrei de nossos irmãos japoneses, diz assim: "vira a usina comer/ as terras que vai achando./ Com grandes canaviais/ todas as várzeas ocupando.O canavial é a boca/ com que primeiro vão devorando/ matas e capoeiras,/ pastos e cercados./ Com que devora a terra/ onde um homem plantou seu roçado./ Depois poucos metros onde ele plantou sua casa.' Não parece o tsunami do Japão, Carlos? E outros versos teus me lembraram a Líbia : " Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos". Tudo pelo poder. Como o ser humano é egoísta, mesquinho. E na nossa África cada vez pior, como você mesmo previu: " A negra para tudo/ a negra para todos/ a negra para capinar plantar/ regar/ colher carregar empilhar no paiol/ ensacar/ lavar passar remendar costurar cozinhar/
rachar lenha/ limpar a bunda dos nhozinhos/ trepar", pois é a injustiça social ainda reina, tanto aqui, como lá.

Os homens Drumond estão cada vez pior, mesmo com a tecnologia avançada, nada melhora. Você se foi em 1987,ainda não havia o termo globalização, ainda não havia internet. Se você estivesse aqui, seus versos continuariam pessimistas, niilistas.

Quanto aos relacionamentos, tu disseste em O sobrevivente:" Amor se faz pelo sem-fio, pois é, com a internet, se faz sexo pela cam, você imagina? O ser humano está cada vez mais só.
Para tudo isso acontecendo, mesmo se nos chamássemos Raimundo, seríamos uma rima, não uma solução para este mundo cruel. "Eta vida besta, meu Deus.'
                                     Um abraço de quem te admira,
                                                  Edson Pereira

Um comentário:

  1. Meu Caro, saudações...

    Hoje acordei um pouco mais tarde. Ontem a noite fiquei até tarde na rede munidal de computadores, não como os adolescentes. Álias, eles não estão errados ao fazerem isso.Eu estava procurando sobre como escrever o novo conto, vi documentários, artigos de jornais e até vasculhei na mitologia. Isso faz parte do processo, são dores e prazeres agregados a "arte de escrever": Pesquisa documental e investigação in loco. Mas, tudo bem. Após o café a sina de procurar continuou e ao me conectar, procurei o seu blog como sempre faço. Ele ainda estava com a postagem anterior. Fiquei com receio de que você não iria escrever, sei lá...nunca se sabe.
    Quando você escreve me sinto reflexivo, pois como já conversamos pessoalmente e você sinceramente me falou que a inspiração para escrever vem assim livre e assim colocar no blog. Isso me impressiona, pois ao contrário: eu escrevo no lugar e depois faço a limpeza, tiro toda a poeira e ainda depois de publicado reescrevo.
    Por que será que a escrita em mim nunca está acabada, finalizada ? Não me dou por satisfeito, pareço ter uma briga com as palavras.
    Dai, você abre esse domingo com Drummond. Confesso que há pouco tempo comecei a "curtir" a verve artistica dele. Tudo tem seu tempo. E isso decorre do poema dele: Tarde de Maio. Na verdade, tarde de maio, para mim poderia ser tarde de domingo. Escrevi algo sobre o final da tarde de domingo que se encaixa como tarde de Maio ao poeta. Tenho um sentimento que deixa vazio ao ver a tarde de domingo adentrando pelas portas e janelas da casa. A ausência de amigos me corroi profundamente nesse exato momento, fico triste sem ninguém saber. Saio feito louco para sepultar esse sentimento ao ver o sol se 'por' e anunciar que a segunda-feira ja se aproxima.
    Ainda bem que existe a internet. Posso passar a tarde de domingo aqui lendo o que meu amigo escreveu.Isso consolo um pouco do peso da existência humana. Enche de esperança o amanhã, sabendo que ele será segunda-feira e não sexta-feira.

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