terça-feira, 16 de novembro de 2010

CARTA À EMILY DICKINSON

Cara Emily,
             Hoje estou com vontade de vestir branco e preto para sempre e nunca mais sair de casa. Vou dar um tempo à poesia. Queria que as minhas fossem fragmentadas como a sua. Escrevendo à bordo do inconsciente e quem quiser que me entenda. Estou circunspecto e parece que estou pousando para uma foto, o olhar não sei onde. A minha aldeia não se parece com a sua. Já não posso contar com o pastor e se pudesse, também, não iria querer. A vida Emily está insuportável. Você acha que devo continuar no meu quarto para sempre? Quero liberar meus passos, limar o sabugo até não restar mais nada. Todos morrem comigo com um sorriso que lembra os palhaços sem picadeiro. As palavras morrem, Emily? Tantas perguntas,  você deve estar exausta.
              Qualquer dia desses vou te visitar, espero que abra uma exceção e converse com esse seu amigo. Conversar sobre flores e domingos.
                                                                                                                                           Abraço.

Um comentário:

  1. Edson escreve: cartas as escritoras sem endereço ao destinatário, versos em prosa,influencias diversas...na escrita em prosa, as palavras deslizam naturalmente como cabe a um escritor. Nada tão rabuscado ou tão as claras, um perfeito equilibrio. Se tem "um dedinho de prosa" seu é tê-lo a mão companheira daqueles que gostam das palavras. Emily ou Clarice ? Não sei ao certo qual das duas lhe veste de palavras, mas por certo de tanto procuram que lhe dá a coroa de loiro, acabo por saber que é você mesmo.

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