Pena(s)

Depenei as penas.
Nu
me senti vivo.

Joguei fora as penas.
Virei palhaço.
Rio da vida, de mim mesmo.

Pra que pena(s).

Confissões de Pablo

"Mas sobretudo de onde vem essa certeza de estar vivendo?... "Quis o mar e sentiu os lencóis da cama"...
                          (In Clarice Lispector, perto do coração selavagem, pags. 22 e 23)

Em certos momentos, acho que não estou vivendo. Não da forma como os morangos, as maçãs e as uvas estão sendo colhidas do pé. Das cestas até chegarem as nossas mesas, elas fazem grandes viagens. Não sei se vivo. Fico e estou.
Sentir o gosto do cafezinho à tarde é viver? Sentir o gosto do chá das cinco e pensar na Índia é viver?
O tic tac do relógio, a luz da tv  no quarto escuro, a geladeira fria. Tudo É. Nós humanos apenas existimos. Existimos como o personagem de Guimarães Rosa que vai viver na terceira margem do rio em busca de SER. Existimos como Joana, personagem de Clarice, em busca do coração selvagem.Um dia quem sabe, possamos dizer como James Joyce, "Ele estava cansado. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida".

Digressões

Acho que já morei numa casinha branca. Acho que já passei por alguma avenida cheia de farinha de mandioca. Eram muitas tapiocas e beijus. As casas eram feitas de alfinim. Que maravilha! Acho que já me balancei numa rede aos 5 anos de idade. A cada ida e vinda dessa rede já imaginava um futuro, não sabia qual, nem sabia onde, mas, distante do sítio onde morava. Que saudade desse sertão! Já previa meu SER?

                                                           ***

O balanço da rede

O balanço das ondas

O balanço do mar

O balanço do navio.

Os balanços de fim de ano.

Os balanços que a vida dá.

Realismo

Encontrei a Esperança
sem óculos.

Encontrei o Otimismo
sem uma gota de nada em seu copo.

Encontrei a Luxúria
cada vez mais estapafúrdia.

Encontrei a Lucidez
com um lexotan na mão.

Encontro a Vida
casada com Mr. Attack.

Esperas

Esperando o ônibus.
Esperando o trem.
Esperando o avião.

Dizem que Roma é logo ali.

Medusa

o

O que aconteceria se nós pudéssemos nos ver sem a ajuda do espelho?

Por você

Por você
quero ser
colidido
bombardeado
espremido
arrematado.
Só não me ponha cadeado.

À deriva

Paro
no meio do mar.
Tempestade, furacão.
Solidão.

Surge a lua nova.
Preparo para zarpar.
Zás...
Calmaria, percepção.